A Ria de Aveiro é o cenário no qual os moliceiros se movimentam, não sendo, no entanto, as únicas embarcações que aí se podem encontrar. No início do séc. XX, encontravam-se nesta região quatro géneros de trabalho bem definidos: a apanha do moliço, a exploração das salinas, o transporte fluvial da pesca marítima e a pesca fluvial, correspondendo a cada uma destas actividades, respectivamente, o moliceiro, a saleira, a bateira mercantel, os dois tipos de bateiras murtoseiras e a bateira de Ílhavo.
Moliço é o nome vulgar para designar, sem distinção de espécies, as plantas que constituem a vegetação submersa da ria, designando-se por apanha do moliço a actividade que se desenrola em seu torno. É de salientar que o termo moliceiro não se refere apenas à embarcação, designando também o seu utilizador.
A construção dos barcos moliceiros é uma indústria tradicional que apenas existe nesta região, especialmente nos concelhos da Murtosa e Ílhavo. Trata-se de uma profissão que passa de pais para filhos.
Os barcos são construídos em pinheiro bravo e manso, possuindo as seguintes medidas: de 14,5 a 15 metros de comprimento; 2,5 a 2,6 metros de boca; 40 a 45 centímetros de pontal.
Os meios de propulsão tradicionalmente utilizados são a vela e a vara ou a sirga. Daí a expressão popular de andar à vela, andar à vara ou andar à sirga. Actualmente, recorre-se sobretudo a motores fora de borda.
Uma das características destas embarcações é a sua riqueza em termos decorativos, sendo profusamente utilizados os elementos marinhos e rurais. De igual modo, é característica a presença de uma legenda em cada moliceiro, dizeres de carácter único e cheios de graça, tendo como limite apenas a imaginação do seu autor.